Economia

Por que os juros variam tanto entre os diferentes tipos de empréstimo?

Como qualquer preço, a taxa de juros deve, ao menos, cobrir o custo do vendedor. Mas, afinal, qual é o custo do crédito?

Lucio Silva
27/04/2022 15:50
3 minutos

É sabido que as taxas de juros costumam variar bastante entre as diferentes modalidades de empréstimo, e mesmo entre os bancos e outras instituições credoras. A explicação começa por um fato básico, os juros, como outros preços na economia, devem, ao menos, cobrir o custo de quem oferta o produto ou, no caso, o empréstimo. 

Porém, bem menos conhecida é decomposição do custo do crédito, ou seja, os juros vistos da perspectiva do credor. O Índice de Custo do Crédito (ICC), calculado pelo Banco Central do Brasil, preenche esta lacuna e nos permite conhecer um pouco mais como a taxa de juro é formada. O índice é decomposto em cinco partes, vejamos: 

  • Custo de captação: é o custo do dinheiro captado no mercado pela instituição de crédito, os juros que a instituição paga aos investidores. Por exemplo, em uma captação através de Certificados de Depósitos Bancários (CDB) o banco remunera os investidores com uma certa taxa de juros, que neste exemplo é o próprio custo de captação. 

  • Inadimplência: é quando o tomador de um empréstimo não consegue honrar seus compromissos com o credor, por motivos que não são técnicos ou temporários. Essas perdas são o custo da inadimplência. 

  • Despesas administrativas: como o nome indica, são as despesas necessárias para que a instituição possa manter a oferta dos serviços em condições adequadas de funcionamento, como as despesas com pessoal ou com marketing. 

  • Tributos e Fundo Garantidor de Crédito (FGC): são os tributos que recaem sobre as instituições que realizam operações financeiras, além das contribuições mensais das instituições associadas para o FGC. 

  • Margem financeira do ICC: trata-se da remuneração do capital dos acionistas das instituições credoras, pode incluir outros elementos não considerados anteriormente. É, afinal, uma medida aproximada do lucro obtido com as operações de crédito. 

A soma desses cinco itens é o custo do crédito. No começo do ano, o ICC médio da economia brasileira era de 18,92%. Segundo dados do Banco Central, quase um terço do ICC deve-se ao custo de captação. A inadimplência e as despesas administrativas somam em torno de 20% cada item; já os tributos e FGC e a margem financeira respondem, cada um, por certa de 13% do ICC. 

Agora é mais fácil perceber, por exemplo, porque as opções de empréstimo com garantia têm juros menores. É porque o risco da inadimplência para o credor é bem menor, afinal, é oferecida a contrapartida de um bem em caso de não pagamento. O mesmo vale para as opções de crédito consignado, que mais se aproximam de um adiantamento. Por sua vez, o empréstimo pessoal tem juros um pouco maiores, e uma análise criteriosa do perfil de quem toma emprestado. Sim, os juros variam também conforme o perfil de quem pede emprestado. Opções mais à mão, como cartões de crédito, têm juros maiores. 

Os demais itens também variam entre as instituições do mercado. Por exemplo, são diferentes as condições de captação direta de recursos junto ao público para bancos e para financeiras. A eficiência administrativa, a participação dos intermediários bancários, o uso das novas tecnologias que reduzem custos, tudo isso concorre para que as taxas de juros sejam diferentes. Isso sem falar nas condições de demanda, o público alvo, a localização, as condições de concorrência e outros fatores que irão contribuir para a margem financeira e de lucro dos credores. 

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